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Gestão e Métodos Ágeis

  • Foto do escritor: Fabiano Birchal
    Fabiano Birchal
  • 12 de ago. de 2021
  • 7 min de leitura


Para reflexão e contextualização


E tudo começou quando profissionais da área de tecnologia, mais especificamente Engenheiros de Software, entre as décadas de 80 e 90, manifestaram seu inconformismo com o modelo de gestão de projetos no qual estavam inseridos em seus contextos de trabalho, modelo que nos referimos hoje como gestão tradicional de projetos ou cascata (waterfall).

Este modelo cascata, como o próprio nome diz, é uma analogia à uma cachoeira, que começa do alto e vai descendo, a água não volta para cima. Só tem um caminho a ser seguido. Uma metáfora criada para representar este modelo de gestão que possui longas fases sequenciais, e quando terminada uma fase, não se volta às outras anteriores.

O modelo de gestão tradicional de projetos de software foi herdado da gestão de projetos das outras engenharias, como Engenharia Civil, por exemplo, que possui longas fases sequenciais como: desenho da planta, documentação, aprovação (depois de aprovado não se muda mais, ou o custo da mudança é muito alto), construção (alicerce, pilares, paredes, teto, etc).

Mas para aqueles profissionais, engenheiros de software, esse modelo não era coerente com o trabalho que eles executavam, afinal desenvolver software, além de ser um trabalho do conhecimento, é uma questão de validação de hipóteses. Essa validação é necessária porque as coisas mudam.

O cliente, e partes interessadas no produto do software, tem ideias, eles validam novas ideias e precisam de mudanças. Eles possuem suposições que acreditam funcionar para um determinado mercado ou segmento, e ao longo do desenvolvimento eles também acabam adquirindo novos conhecimentos e solicitando novas mudanças. O mercado muda.

Por meio de feedbacks dos clientes e usuários do produto de software, são promovidas as alterações no fluxo estabelecido inicialmente, e no modelo cascata isso não é possível fazer.

Diante dessa certeza de mudança, aqueles profissionais criaram suas comunidades construindo modelos diferentes de gestão do trabalho, métodos e técnicas que facilitam a validação das suposições dos produtos que eles estavam desenvolvendo. Surgiram então as comunidades dos métodos leves. Leves em contradição aos métodos pesados que a gestão tradicional, a cascata, carregava. E muitos foram os adeptos a estes novos métodos leves, que posteriormente, em 2001, com a oficialização do Manifesto para desenvolvimento ágil de software, passaram a ser chamados de métodos ágeis.

O Manifesto Ágil que conhecemos hoje foi elaborado em conjunto por profissionais que representavam as comunidades dos métodos leves. Ele consolida quatro valores e doze princípios, que podem ser vistos no site oficial https://agilemanifesto.org/.

E por que ágil?

Apesar de ágil ser uma palavra que remete a rapidez ou velocidade, ela foi escolhida porque representa adaptação, ajuste às necessidades e mudanças que o mundo do software precisa. Um dos 4 valores do manifesto ágil representa exatamente a adaptação a mudanças, ou seja, responder bem às mudanças é mais importante do que seguir o plano inicial, pois coisas acontecem no meio do caminho e podemos não conseguir prever todas elas. Veja abaixo o que diz um dos 12 princípios do manifesto que justifica a necessidade de adaptação às alterações que podem surgir ao longo de um projeto: “Aceitar mudanças de requisitos, mesmo no fim do desenvolvimento. Processos ágeis se adequam a mudanças, para que o cliente possa tirar vantagens competitivas.” Os métodos ágeis

Trazendo uma abordagem mais leve e menos burocrática que os chamados métodos pesados, as comunidades dos métodos leves criaram metodologias, frameworks, técnicas e práticas, cada uma para um determinado contexto e para os desafios enfrentados naquele momento. Estes métodos tiveram suas atualizações ao longo desses 20 anos, ou até mesmo outros foram criados. São inúmeros, mas vou descrever os três mais utilizados no mundo, de acordo com o 15º relatório anual da agilidade:

SCRUM Scrum é um framework leve que ajuda pessoas, times e organizações a gerar valor por meio de soluções adaptativas para problemas complexos. Ele é simples e sugere que você experimente e avalie se a filosofia, teoria e estrutura ajudam a atingir objetivos e criar valor no seu trabalho. O Scrum se baseia no empirismo e no pensamento lean. Vários processos, técnicas e métodos podem ser empregados com o Scrum. Ele se acopla às práticas existentes ou as torna desnecessárias. Tem como pilares: transparência, inspeção e adaptação. O ciclo de vida do Scrum é baseado no processo iterativo incremental, com ciclos curtos de entrega de valor aos clientes.

XP - Extreme Programming O XP é um método de desenvolvimento de software, leve, não é prescritivo, e procura fundamentar as suas práticas por um conjunto de valores: comunicação, simplicidade, feedback, coragem e coach. O objetivo principal do XP é levar ao extremo um conjunto de práticas que são ditas como boas na engenharia de software. Entre elas podemos citar o teste, sugerindo que o software deve ser testado constantemente, visto que ter uma fase específica para procurar defeitos é perda de tempo.

Kanban O Kanban é um método cuja abordagem de gestão deve ser aplicada a um processo ou método de trabalho já existente, podendo ser adicionado a uma metodologia, framework, ou à própria maneira de trabalhar na empresa. Ele tem a intenção de ajudar a gerenciar melhor o trabalho e melhorar a prestação de serviços ao ponto de atender consistentemente as expectativas dos clientes. Kanban é um meio para melhorar o que e como você já faz as coisas, e não um substituto.

Onde os métodos ágeis estão inseridos O pensamento lean, que possui suas raízes na Lean Manufacturing (produção enxuta), permeia todos os modelos e métodos ágeis e está em uma dimensão maior que a deles. O Lean é fortemente baseado no foco em fluxo de trabalho, limitar o trabalho em andamento para estabelecer sistemas puxados, foco na otimização do sistema como um todo; ao invés de gerenciar o desempenho individual, tomada de decisões são baseadas em dados e melhoria contínua de maneira evolutiva. Possui características fortes de melhoria contínua, eliminação de desperdícios, e de entregar valor mais rápido para o cliente.

Agilidade além da TI Mesmo os métodos ágeis, e até o próprio Manifesto Ágil, terem nascido com foco no desenvolvimento de software, seus conceitos, valores e técnicas podem ser utilizados em outras áreas e segmentos. Após alguns anos da criação do manifesto ágil, novas comunidades criaram novos movimentos com a intenção de modernização para atender as várias áreas, além do desenvolvimento de software, e também resgatar valores que estavam perdidos devido ao “modismo” que a Agilidade se tornou nos últimos 10 anos. Alguns deles são: Heart of Agile, Modern Agile e True Agile. Levar as práticas e princípios da Agilidade para fora da TI, reforça a necessidade das empresas se tornarem organizações verdadeiramente ágeis, que são empresas capazes de entregar valor de forma incremental, melhorando continuamente, com base em práticas emergentes, experimentos e feedbacks em ciclos curtos, e princípios como Autogestão, Integralidade e Propósito Evolutivo. Esta é a essência do Ágil. Agilidade Organizacional e de Negócios é a capacidade de uma empresa se adaptar às mudanças do mercado e às demandas de seus clientes.

A cultura e mentalidade ágil Partindo do conceito que uma cultura é um conjunto de regras que podem promover ou limitar comportamentos e que cultura organizacional é a maneira com a qual as empresas criam e distribuem conhecimento, riqueza, poder e valores, podemos definir que cultura ágil é o conjunto de premissas e restrições que apoiam as pessoas na busca pela inovação, por meio de experimentos e feedbacks, de maneira que elas possam compartilhar seus conhecimentos e sentimentos, com alto grau de interação entre elas com baixíssimo grau de controle e coordenação, ou seja, um ambiente propício para o exercício da autonomia.

Diferentemente da gestão tradicional que possui processos burocráticos, planejamentos irreais e inflexíveis de longo prazo e pessoas desmotivadas, a Agilidade Organizacional, de Negócios e de times é uma abordagem que traz o uso de metodologias ágeis, que promovem o engajamento - gestão com pessoas - e entrega produtos e serviços com melhor eficiência e eficácia, criando uma cultura organizacional de resultados reais, com foco na satisfação do cliente, motivação de equipes e colaboradores.

Uma mentalidade Agile é a combinação de ações e comportamentos que resultam em uma cultura ágil. Se essa mentalidade for cultivada e nutrida, as equipes (e, portanto, a empresa) terão resultados surpreendentes - funcionários felizes entregando valor e deixando os clientes satisfeitos com os resultados.

Seja você o agente de transformação da cultura da sua empresa! Não espere que alguém o peça para fazê-lo.

“Não basta melhorar uma vez, é preciso fazê-lo constantemente. Sempre procure algo que possa ser aprimorado. Nunca, jamais, conforme-se com o lugar onde está. A maneira como você atinge seus objetivos é sempre experimentar, até que consiga perceber se atingiu um ponto mais alto. Se eu tentar esse método, o resultado será melhor? E quanto a esse outro? E se eu mudar esse pequeno detalhe?”

Trechos do livro SCRUM – A Arte de fazer o dobro do trabalho na metade do tempo de Jeff Sutherland Cocriador do Scrum.



Sobre a autora: Ana Grossi - Consultora e Educadora em Agilidade Organizacional e Autogestão Atuo como consultora em gestão de mudanças organizacionais, desenvolvimento e performance de líderes e de times, por meio da Agilidade Organizacional e Autogestão, com foco na promoção de uma cultura de inovação para geração de valor para o cliente. Especializações: Agile Coaching, Flight Levels System Architecture, Autogestão com O2, Estratégias Adaptativas, Lean Inception Facilitator, Lean Product Development, Kanban, Scrum, Lean, XP, Learning 3.0, Agile HR, Resolução de Conflitos e Resistências, Management 3.0, MindMap Experience, Motivação nas Organizações, Gerência de Projetos e Processos, Gerência de Verificação e Validação, Gerência de Configuração, Cultura DevOps.



Referências:

  1. Sutherland, J. Scrum. A Arte de Fazer o Dobro do Trabalho na Metade do Tempo.

  2. Manifesto para Desenvolvimento Ágil de Software - https://agilemanifesto.org/iso/ptbr/manifesto.html.

  3. Schwaber, K. e Sutherland, J. O Guia do Scrum - O Guia Definitivo para o Scrum: As Regras do Jogo. Pode ser baixado gratuitamente em: https://www.scrumguides.org/docs/scrumguide/v2020/2020- Scrum-Guide-PortugueseBR-2.0.pdf

  4. O coração do ágil - https://heartofagile.com/o-coracao-do-agile/

  5. Modern Agile: https://modernagile.org/

  6. True Agile: Por que precisamos de times multidisciplinares?

  7. Agilidade ≠ Velocidade - https://anacgrossi.medium.com/agilidade-velocidade-e5c1310a8a46

  8. 15th State of Agile report: https://stateofagile.com/#ufh-i-661275008-15th-state-of-agile-report/7027494

  9. Anderson, David J and Carmichael, Andy - Essential Kanban Condensed – https://resources.kanban.university/kanban-guide/

  10. Guia Oficial do Método Kanban, V.1 FEV21, Kanban University.


 
 
 

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